Simplificações

27/03/2024

Há momentos nos mercados em que os preços se deslocam de forma tão surpreendente que os agentes e a mídia financeira ficam simplesmente perplexos. Como consequência, passamos a ler e ouvir explicações para os surpreendentes movimentos que soam como meras simplificações em meio a algo que é certamente complexo.

Posso citar dois exemplos: o movimento de valorização avassalador e contínuo do S&P 500 desde o fim de outubro do ano passado e a frustrante divergência entre a performance do nosso Ibovespa frente aos índices internacionais como o próprio S&P 500, o DAX e outros.

Em relação a expressiva valorização do S&P 500 a mídia financeira definitivamente elegeu a revolução do "AI" como a principal causa do movimento. Não quero afirmar aqui que eles estejam errados. Mas há certamente outros importantes fatores em ação. Dentre eles, o movimento de indexação que faz com que os investidores se concentrem naquilo que vem dando certo ("momentum") é certamente um outro fator importante. Um outro fator muito discutido nos últimos dias é o volume de recursos "estacionado" nas contas correntes dos cidadãos norte-americanos (ver gráfico abaixo).

O curioso é que neste processo de análise surgem simplificações tipo "A double is a bubble!". Estudos da Datatrek apontam que a melhor forma de detectar se o mercado está vivendo um período de tremenda euforia é avaliar a performance do S&P 500 e do Nasdaq em janelas de tempo específicas.

Para o S&P 500, em caso do índice dobrar de preço em um período de 3 anos, aí é certamente uma "bolha"! Já para o Nasdaq, caso isso ocorra em um ano, aí é também uma "bolha"!

Abaixo, temos o retorno acumulado do S&P 500 em janelas de 3 anos de forma contínua. Como podemos observar, o retorno registrado em fevereiro deste ano parece estar bem na média e, por esta razão (de acordo com a Datatrek) estaria longe de ser classificado como uma "bolha". Estas simplificações são divertidas, mas são meras simplificações.

E o que dizer da "underperformance" do Ibovespa em relação ao Ibovespa? Bem, a mídia financeira já deu a resposta: é tudo culpa dos investidores estrangeiros que tiraram 21 bilhões de reais da nossa bolsa desde o início do ano.

Quem me dera se fosse simples assim. O fato é que há muita complexidade em todos estes movimentos. O ruído político no Brasil anda elevadíssimo e a preferência pelo conforto da renda fixa parece inabalada a despeito do movimento de redução de juros.

Estamos chegando ao fim do primeiro trimestre de 2024. Os próximos dias nos reservam realocações de carteiras, movimentações associadas a pagamentos de impostos nos EUA, e diversos outros fatores. Há movimentos cambiais em curso envolvendo as moedas asiáticas (em particular a japonesa) que poderão ter um efeito mais significativo nos mercados. Gravei um vídeo esta semana em que falo sobre o mercado acionário da China e discuto uma importante transição que está ocorrendo por lá. Confira ao clicar aqui.

Marink Martins


www.myvol.com.br