Sobre as manifestações em Hong Kong e os mercados
É provável que estas manifestações ainda se prolonguem. Tudo indica que os membros do partido comunista chinês optem por uma estratégia mais paciente ao invés de ir para um confronto armado. Ninguém quer mais um massacre similar ao ocorrido na Praça da Paz Celestial em 1989.
Dito isso, há, quase sempre, uma razão econômica associada a tais manifestações. Em 1989 havia uma inflação de alimentos que rondava na casa dos 20% ao ano. O problema em Hong Kong é a escalada dos preços imobiliários que faz com que os jovens simplesmente se sintam excluídos. No gráfico abaixo podemos ver como o índice de preços imobiliários vem subindo continuamente.

A mídia financeira, entretanto, dramatiza a situação e especula a respeito de um eventual abandono do sistema cambial da ilha baseado em um "currency board" implementado nos anos 80. Para Louis-Vincent Gave, fundador da Gavekal e residente de Hong Kong, é pouco provável o abandono de tal sistema. Vou explorar melhor este assunto em um outro post.
Dito isso, é importante ressaltar que a taxa local (Hibor) vem subindo em relação a taxa internacional (LIBOR). Mesmo assim, observe que o sistema monetário foi concebido de uma forma que, conforme a demanda por USD cresça, a taxa HIBOR sobe em busca de um equilíbrio. Neste sistema, cada HKD é garantido por 1 USD em reservas. Sendo assim, a probabilidade de uma alteração nesta política cambial é considerada baixa.
Em um passado distante - durante a crise asiática nos anos 90 - a cidade teve que enfrentar uma enorme especulação contra a sua moeda. Além disso, o preço dos imóveis despencou 70%. O câmbio se manteve inalterado. Neste momento devemos observar, cientes de que este ruído poderá se manter elevado por um longo tempo assim como ocorreu durante as manifestações francesas.

Marink Martins