Sobre "Short Squeezes"

05/11/2019

A expressão anglicana - "short-squeeze" - refere-se a um encurralamento daqueles que apostam contra a apreciação de um determinado ativo. Uma vez encurralado, o vendido é forçado, não só por forças emocionais, mas muitas vezes por forças compulsórias, a zerar sua posição vendida em um curto espaço de tempo, provocando uma valorização expressiva no preço do ativo em questão.

Eventos desta natureza não são tão raros e quando ocorrem geram um sentimento para boa parte dos participantes de mercado que parece ser um misto de vingança e alívio. Afinal, para a maioria dos agentes, operar vendido no mercado está associado a uma operação de elevado risco e muitos simplesmente preferem assistir da arquibancada com um certo fascínio, desejando, inconscientemente ou não, a morte do protagonista.

A ideia aqui não é fazer deste texto uma expressão do meu ressentimento por ter sofrido alguns "squeezes" neste mercado, mas sim ajudar o leitor a entender e a detectar a dinâmica envolvendo estes fascinantes eventos.

Ontem, ao escrever o texto cujo título foi "Reminiscências de um novembro de 2007" mencionei um dos maiores "short squeezes" da década que foi aquele subsequente ao anúncio da dimensão do mais famoso poço do pré-sal na ocasião - o Tupi.

Com o benefício da história, posso afirmar que um fator que muito contribuiu para a ocorrência daquele evento foi o fato de que, na ocasião, a exigência de garantias feita pela Bovespa era simplesmente baixa demais. Em termos comparativos com o que é praticado nos EUA, posso dizer que a chamada de margem para uma determinada operação vendida em opções era a metade do que seria exigido caso a mesma operação fosse feita em solo americano. Hoje, a exigência por aqui é quase o dobro!

Sendo assim, a possibilidade de um "short-squeeze" no mercado de opções, embora sempre possível, é pouco provável. Além da exigência de garantias em um nível quase proibitivo, há também o fato de que diversas casas de pesquisa - aquelas voltadas ao varejo - vem recomendando a compra de opções de diversos ativos, de forma que a relação entre titulares e lançadores esteja um tanto desproporcional, com muitos comprados para poucos vendidos.

Mas, não pense que o tal "short-squeeze" seja algo exclusivo do mercado de opções. Existem muitos casos em que diversos investidores ficam vendidos em ações, através de empréstimos obtidos via BTC.

Neste exato momento uma grande varejista brasileira promove um aumento de capital estabelecendo datas de cortes para a subscrição de suas ações que, como consequência, resultaram em uma espécie de encurralamento do vendido. Em alguns dias, o custo de empréstimo de tais ações subiu de 3% ao ano para uma média registrada ontem na faixa de 26,5%. O volume de ações emprestadas subiu aproximadamente 40% e o preço do ativo base durante o período também subiu de forma expressiva.

No passado, em uma época de taxa de juros mais elevada, eu costumava dizer o seguinte: evite ficar comprado em uma ação cuja taxa do BTC exceda 15%. Agora, em um mundo onde a taxa básica é baixíssima, acho até que este parâmetro pode ser reduzido ainda mais.

O fato é que ninguém toma empréstimos a estes níveis pensando em carregar a posição por um prazo de um ano. Toma-se empréstimos a taxas elevadas pois há uma expectativa de que o preço do ativo em questão irá cair em um curto espaço de tempo. Naturalmente, estou falando aqui de expectativas que podem ou não ser materializadas.

Finalizo, dizendo que operações vendidas, sejam elas em opções ou em ações, são operações táticas e arriscadas. Tenho uma vida dedicada a operações estruturadas no mercado de opções e, mesmo assim, já enfrentei diversas adversidades neste mercado. Não entre em operações vendidas sem o devido planejamento necessário e sem a devida compreensão dos riscos inerentes a tais operações.

Marink Martins 

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