Time-out! Pare, reflita e, se necessário, fuja para as montanhas!

04/01/2018

Já dizia o filósofo francês, Jean Paul Sartre: o inferno são os outros! Neste momento de intenso convívio com familiares e amigos, muitas vezes somos contagiados pela euforia alheia. É o amigo que tira onda por ter comprado Bitcoins quando Jamie Dimon disse que era uma fraude. É o primo que diz que MGLU3 será a Amazon da América Latina. Muita calma nesta hora!

Não se deixe levar por todo este entusiasmo. Há dois anos, o ano de 2016 começou péssimo e terminou muito bem. Todo este entusiasmo poderá ser dissipado rapidamente. O que observamos no momento, não é necessariamente uma melhora nas condições globais.

Temos um mercado em êxtase diante da reforma tributária de Trump. De fato, alguns setores da economia norte-americana, como o varejista, vinha sofrendo bastante devido ao efeito "Amazon", e agora passa a ser beneficiado por uma redução tributária expressiva; de 35% para 21%. O impacto desta "canetada" na lucratividade de tais empresas é inquestionável.

Mas, aí eu te pergunto: Se a solução dos problemas americanos é tão simples assim, por que outros países simplesmente não replicam tal estratégia? Por que o Brasil não embarca nessa, e reduz os impostos corporativos de forma significativa?

A resposta é simples! O nosso déficit primário provavelmente subiria para R$250 bi, o rating do país seria rebaixado e o dólar dispararia. Mas, por que isso não ocorre por lá?

Bem, sabe-se que a reforma tributária de Trump não traz consigo uma neutralidade fiscal. O déficit é crescente e a relação dívida/PIB dos EUA se aproxima 100%. Os republicanos, entretanto, argumentam que tal medida irá gerar um maior crescimento econômico que, por sua vez, equilibrará as contas.

E se tal crescimento não ocorrer? Este é o tipo de pergunta que políticos tendem a responder da seguinte forma: vamos deixar para nos preocupar com o problema quando este, de fato, surgir. Ele certamente irá surgir, e não será combatido por Trump.

Reitero aqui, mais uma vez, as falas de professor da Universidade de Chicago, Luigi Zingales, que diz que a política norte-americana cada vez mais se assemelha a política latino-americana - uma política dominada pelo populismo. Empurra-se com a barriga, ou como eles gostam de dizer: "kick the can down the road".

Dou toda esta volta para te dizer que, se o seu horizonte de investimentos for superior a um ano, você deve evitar este momento de euforia. É comum, em estágios tardios de um ciclo altista como este que estamos vivendo, que os mercados exagerem em alguns movimentos.

Na época da euforia do Nasdaq, lembro-me quando o NDX (Nasdaq 100) registrava 3.700 pontos, e muitas métricas associadas a tal índice já apontavam para uma supervalorização. Mesmo assim, a euforia foi tanta, que tal índice continuou subindo até registrar aproximadamente 5.200 pontos. Em seu eventual "crash", tal índice caiu 4.000 pontos. Cabe a você investidor definir seu horizonte de investimentos e sua estratégia no mercado.

Trazendo para a realidade brasileira, eu diria que por aqui nada mudou. Os riscos são os mesmos. Entretanto, quando olhamos para o gráfico do risco-Brasil, medido pelo CDS de 5 anos, vemos uma enorme compressão. O mesmo vem ocorrendo em outros países que exibem um grau de fragilidade econômica semelhante ao brasileiro.

Abaixo, segue o gráfico do CDS de 5 anos do Brasil, assim como um gráfico com a curva de juros do país. Notem que, da data da gravação do Joesley para cá, tal risco caiu de forma contínua. Já no outro gráfico, notem que, embora a taxa de curto prazo tenha caído de forma significativa, a taxa de longo prazo (aquela utilizada para descontar o fluxo de caixa das empresas) já não caiu tanto.  

Marink Martins, CNPI

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