Transição não é meu forte!

31/08/2020

No início do milênio -- época em que a minha vida profissional era 100% dedicada à minha atividade de gestão de recursos - fui lento para reconhecer que as empresas de telecomunicações perderiam valor na bolsa brasileira. Na verdade, fiz pior! Apostei em um processo de reversão à média através de um long/short de Telemar contra o IBOV que se provou custoso.

Abordo este assunto pois existe a possibilidade de que uma nova transição esteja em curso. Refiro-me ao fato de que empresas do varejo digital (MGLU3 e VVAR3) foram alçadas a um certo protagonismo na bolsa brasileira. Será que isso representa, de fato, uma transição para uma nova configuração de ativos na bolsa brasileira?

Conforme mencionei inicialmente, a minha capacidade de detectar tais transições não é das melhores. Feito o "disclaimer", apresento aqui alguns argumentos para o meu ceticismo no que diz respeito ao que vem ocorrendo nos EUA com as ações da TESLA, e no Brasil, com as ações do segmento de varejo digital:

TESLA: Hoje o valor de mercado das ações da empresa produtora de carros elétricos atinge a marca de aproximadamente US$450 bilhões. Ela já vale mais do que a soma do valor de mercados das 5 maiores empresas do setor, sendo que tais empresas venderam 44 milhões de veículos em 2019 contra somente 360.000 carros vendidos pela TESLA.

Neste fim de semana foi noticiado que Elon Musk, fundador da TESLA, estaria viajando para a Alemanha para analisar uma impressora de vacinas que faz uso da tecnologia RNA. Sério? Sim, o cara que é capaz de faze com que seus foguetes retornem a base, está também fixado em liderar a cura para a Covid19. Ou será que boa parte disso é fruto de uma construção de narrativas da mídia?

Varejo digita brasileiro: Há quem acredite que temos um Elon Musk brasileiro, e que este está trabalhando em uma varejista focado em comércio eletrônico. A narrativa associada ao conceito de "Omnichannel" (venda através de diversos canais -- tema discutido no MyCAP Tendências Globais em 2018) ocupa hoje um espaço de extrema relevância na bolsa brasileira. Não é à toa que a Magazine Luíza já vale 150 bilhões reais (mais de 80% do valor do onipresente Banco Bradesco).

Contudo, graficamente, é possível afirmar que as ações da Magazine Luíza vêm se valorizando através de um fenômeno global, com forte correlação com o comportamento de ações de duas empresas consideradas líder no segmento de e-commerce: Shopify e Mercado Livre.

No gráfico acima, a linha preta é a Shopify, a azul é a do Mercado Livre, e a Laranja é a da Magalu. A Magalu não está solta... ela anda junto com sua turma internacional do e-commerce.

Não quero aqui, de forma alguma, tirar o mérito inovador das empresas citadas acima. É justamente esse tipo de pioneirismo visto por Elon Musk e Fred Trajano que contribui para que o mundo avance. Todavia, o que observamos nos mercados, através da precificação dos ativos, pode ser fruto de um modismo que tende a se provar efêmero.

Marink Martins

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