Um ano de viradas?
Espera-se que quanto mais importante e maior for um determinado ativo, maior será o escrutínio por parte dos analistas envolvidos. Assim, é natural esperar que empresas cujas capitalização de mercado supere 1 trilhão de dólares se comporte de forma menos volátil exibindo assim uma maior previsibilidade.
Aquele que acompanhou o comportamento do preço das ações da Nvidia na noite desta quarta-feira (ou da Meta, mais para o início do ano) sabe que há algo em curso que parece desafiar a afirmação acima. O preço da ação da Nvidia -- que inicialmente caiu 5% logo após a divulgação do resultado -- sobe agora nesta manhã 13%.
O que estaria presente neste comportamento errático do preço de forma a transformar a Nvidia na empresa mais especulativa do mundo neste momento? Não faz muito tempo, esta posição era ocupada pelas ações da TESLA que hoje negociam a um preço inferior a 50% da máxima registrada em julho de 2021.
A "virada" no preço da ação da Nvidia me fez lembrar a noite em que Trump foi eleito em novembro de 2016. Naquela ocasião, o índice S&P 500 chegou a cair 8% durante a madrugada nova-iorquina. Na abertura em NY no dia seguinte, já estava positivo 1%.
Tais "viradas" em meio a enormes oscilações invocam também a definição de volatilidade apresentada pelo gestor Chris Cole. Diz ele: "volatilidade é uma medida de busca pela verdade!". Um mercado extremamente volátil é um mercado que reflete um elevado grau de incerteza. Até aí, nada demais. O problema é quando tal incerteza se apresenta de forma enviesada (sempre pra cima ou sempre pra baixo) gerando um elevado e inapropriado nível de confiança nos agentes envolvidos no processo.
Se nos afastarmos um pouco da euforia associada às ações da Nvidia nesta manhã, o que observamos é que a economia americana está rodando com um juro real na casa de 2%, conforme podemos observar no gráfico abaixo:
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Observe que a taxa de juros real atual é a mesma praticada pelo mercado durante o período entre 2003 e 2007. Naquela época, os índices de renda variável negociavam com relações de Preço/Lucro projetadas entre 15x e 17x. Hoje, o mercado americano negocia com um P/L projetado entre 18x e 21x.
O otimista dirá que isso se justifica, pois o advento da inteligência artificial generativa nos coloca em uma situação de mercado análoga àquela vivida em 1995/1996 (início "internet boom"). Já o pessimista dirá que o mercado exagera e reflete um comportamento análogo àquele visto durante o auge da bolha da internet -- entre 1999/2000.
Uma coisa é certa: "viradas" como as mencionadas ocorrerão com mais frequência em 2024 até que nos aproximemos mais de uma situação de maior equilíbrio de forças entre comprados e vendidos.
Marink Martins