"Win on Sunday, Sell on Monday!!!"

02/02/2024

Tomei emprestada esta conhecida expressão utilizada no setor automobilístico como título para o vídeo desta semana que você pode conferir ao clicar aqui. A expressão é bem conhecida na Fórmula 1 e em outras competições ao apontar a correlação entre vitórias conquistadas em um domingo e o subsequente incremento na venda de "merchandise" no dia seguinte. Achei interessante, pois um dos temas explorados no vídeo é a crescente lucratividade da Ferrari e o fato de que seu valor de mercado hoje é 50% superior ao da GM!

Ainda que a Ferrari trabalhe com uma margem líquida que é 4x superior a da GM, suas vendas em 2023 foram inferiores a 2,5% as da GM! Acho chocante o fato de que as ações da Ferrari negociem com um P/L de 51x enquanto as da GM negociem com um P/L de 6x, às da Ford com um de 8x e as da Toyota com um 10,5x. E olhe que nesta comparação não há os fatores Elon Musk e o potencial de vendas de carros elétricos em questão.

Assim, por trás desta que venho chamando de "chocante" distorção, está uma clara preferência dos investidores por marcas que habitam um lugar muito especial na mente dos consumidores. A Apple dos anos 90 -- mesmo debilitada do ponto de vista financeiro -- mantinha a aura de uma marca que muitos gostavam de se associar.

Impressionante nesta sexta-feira é a alta observada no preço das ações da Meta (holding que controla o Facebook, Instagram, Whatsapp, e outras marcas) (+17%). E olhe que a Meta é uma espécie de antítese do que representam a Apple e a Ferrari. Ainda que a dona do Insta conte com mais de 2 bilhões de usuários ativos todos os dias em suas plataforma, suas marcas não possuem os "bragging rights" ("direito de se gabar") de uma Apple e de uma Ferrari. Afinal, tais direitos estão associados ao conceito de exclusividade -- algo que certamente não é do interesse de nenhuma plataforma.

E por falar em marcas, o que dizer da Arezzo -- conhecida por aqui como "House of Brands" -- e que hoje negocia a um múltiplo de P/L que é 50% inferior ao praticado no ano passado? Continuo indagando: por que tanta apatia em relação aos ativos domésticos se há tanta liquidez empoçada na renda fixa?

Será que o investidor brasileiro vive um processo de transtorno de estresse pós-traumático resultante das frustrações vividas após a onda de IPOs de 2021? A resposta provavelmente é muito mais simples do que isso. O fato é que o custo de oportunidade no Brasil se mantém elevado demais. Diante desta pergunta, ouvi o seguinte de um gestor: "estão todos nas incentivadas" (referindo-se a títulos de renda fixa que possuem incentivos fiscais através da isenção de IR).

Seja o que for, a vida dos comentaristas de mercado não anda muito fácil. As peças simplesmente não estão se encaixando.

Marink Martins

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