A virada de mão de Mendonça de Barros

19/03/2018

Aqueles que me acompanham por aqui sabem que eu adoro um embate de ideologias, principalmente quando este ocorre no campo econômico.

Recentemente, escrevi o meu capítulo final a respeito de um confronto criado por minha mente obsessiva entre Louis-Vincent Gave, fundador da Gavekal, e Luis Stuhlberger, fundador da Verde Asset. Vitória para o primeiro que vem há muitos anos prevendo uma espécie de pouso suave na China e apreciação de sua moeda.

Já em 2016, relatei sobre um outro embate interessante: um entre os economistas Luis Carlos Mendonça de Barros e Alexandre Schwartzman. Ao contrário daquele mencionado anteriormente, tal confronto ocorreu de fato e de forma agressiva no já "falecido" programa Painel com William Waack que ia ao ar na GloboNews.

Era um momento econômico um pouco mais tenso do que o atual e Schwartzman se mostrava um completo cético diante da capacidade de um novo governo de superar os desafios econômicos brasileiros. Já Mendonça de Barros, falando como um experiente "trader", mostrava sua longa experiência e apurada intuição ao sinalizar que, apesar das mazelas brasileiras, acreditava que o governo trilharia um caminho de recuperação pelo simples fato de que, historicamente, isso sempre ocorreu em momentos de adversidade. Você pode ler meu comentário escrito ao longo de 2016 ao clicar aqui.

Alguns meses depois do embate, com os mercados favoráveis aos prognósticos do experiente economista, entrei em contato direto com ele para parabenizá-lo. Recebi a seguinte resposta:


Caro Marink

Muito obrigado por suas palavras. espero que consiga fazer vc ter um pouco mais de confiança no nosso querido país. Ele não é aquilo que gostaríamos de deixar para nossos filhos e netos mas temos que administrar nossas ansiedades racionais

Muito obrigado

Luiz carlos


Administrar nossas ansiedades racionais!!! Tal colocação foi brilhante e me fez lembrar da velha sabedoria da vovó tão difundida por Nassim Taleb em sua obra literária. Na verdade o embate entre Mendonça de Barros e Schwartzman me fez lembrar daquele criado na mente de Taleb em seu livro Antifrágil; um embate entre seu personagem chamado "Fat Tony" e o filósofo Sócrates. Tal como o filósofo grego, Schwartzman foi a luta tendo como base expectativas racionais. O que sábio economista não contava era com toda a irracionalidade e insanidade praticada pelos principais bancos centrais.

Na ocasião do embate o Ibovespa circulava por volta dos 50.000 pontos. Hoje, tal indicador encontra-se a 85.000 em meio a um mercado cambial estável. Vitória de Mendonça de Barros, que mesmo sem apresentar argumentos racionais para seu otimismo na ocasião, parece ter detectado nitidamente uma assimetria favorável nos mercados. De forma sagaz, o veterano economista viu que, independente das dificuldades econômicas, os preços nos mercados já refletiam um pessimismo exagerado.

Dito tudo isso, faço toda esta recapitulação para chegar justamente ao dia de hoje; dia em que Mendonça de Barros, em sua coluna mensal no Valor Econômico, parece nos sinalizar uma mudança de tom. Ao ler sua coluna, fiquei com a impressão de que o economista "virou a mão" e utilizou como argumento preocupações de cunho macroeconômico global que tanto discuto por aqui.

Embora parte do sucesso de Mendonça de Barros neste embate possa ser atribuída a continuidade do "bull market" global após ao que aqui chamamos de Acordo de Hong Kong (aquele logo após as turbulências registradas no início de 2016 e que fez com que o Banco do Japão levasse suas taxas de juros ao campo negativo), reconheço aqui que o "velho" economista demonstrou estar melhor sintonizado com o "momentum" de mercado.

Bem, não há nada de errado em contar com a sorte. Sendo assim, concluo afirmando que esta possível "virada de mão" merece respeito.


Marink Martins

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