Um Brasil melhor do que os fundamentos indicam!

22/07/2019

Um grande gestor local posta um vídeo no Twitter com o Gustavo Montezano, recém-empossado presidente do BNDES, afirmando que uma de suas metas é se desfazer da carteira dita "especulativa" do banco e todos aplaudem!

Nada contra o gestor cujo horizonte de investimentos é certamente 30x mais longo do que o meu na bolsa. Mas, caso você já esteja comprado em ações, você deve interpretar esta notícia como algo negativo pois vem lote na venda por aí.

Antes que você ache que o texto de hoje seja uma repetição daqueles que escrevi na semana passada (Sai da venda Montezano! ou Cuidado com o "Overhang"), o meu objetivo neste é argumentar que o mercado de renda fixa internacional já precifica um Brasil muito melhor do que os fundamentos atuais apontam.

Observe que o custo do dinheiro em dólares para empresas brasileiras caiu bastante nas últimas semanas. Hoje, as empresas brasileiras conseguem captar recursos no exterior pagando um "spread" inferior aquele registrado por outros países emergentes. A verdade é que o Brasil voltou a ter acesso a taxas condizentes com países classificados como "investment grade" antes mesmo que o "trabalho de casa" em termos de reformas fosse efetuado.

Que os mercados se antecipam aos fatos, isso é de conhecimento de todos. Devemos estar atentos, entretanto, ao fato de que os mercados também tendem a exageros.

O risco Brasil, medido pelo CDS de 5 anos, está em 128 basis points. Traduzindo: o prêmio de seguro para um investidor estrangeiro comprar um título brasileiro com proteção para calote nunca esteve tão baixo. O importante aqui é comparar este prêmio com o de outros países emergentes. Há indícios de que o mercado pode estar exagerando em sua benevolência com relação ao Brasil. Se este for o caso, um recuo neste indicador poderá coincidir com um certo recuo em outros indicadores no mercado local.

Não devemos ignorar que a redução dos prêmios de risco é algo que vem beneficiando não só o Brasil, mas também outros países. A tabela acima nos mostra que basta o país caminhar um pouco mais com uma agenda reformista  para que mude de patamar. O mercado sai na frente e, muitas vezes, exagera.  Antes que você exclame: O Brasil é melhor do que a Indonésia! Pense endividamento! Não se esqueça também de ver o posicionamento da Itália na tabela.

De forma análoga, não se deixe levar por um otimismo no que diz respeito ao iminente corte de juros a ser feito pelo banco central do Brasil no fim deste mês. Ao calcular o valor intrínseco de um ativo com base em seu fluxo de caixa projetado, a taxa de juros utilizada é uma taxa de longo prazo. Esta já caiu na frente.

Para finalizar este texto de início de semana argumentando que já tem muita notícia boa precificada nos ativos, chamo atenção a discussão sobre o teto do endividamento nos EUA. Esta é uma discussão que se tornou recorrente e que tem a capacidade de gerar um ruído negativo para os mercados.

O congresso americano entra em recesso na próxima sexta-feira. Caso não seja fechado um acordo entre o governo Trump e o partido democrata, este tema será discutido somente em meados de agosto. O problema é que, de acordo com Mnuchin, secretário do tesouro dos EUA, o governo americano fica sem caixa no início de setembro. Taí uma oportunidade para os democratas tirarem um pouco do ímpeto trumpiano visando as eleições de 2020.

Marink Martins

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